Segunda-feira, 2 de Maio de 2011
Querida Mãe,

Não sei como começar esta carta, nem sei se fará sentido para ti, mas, para mim, será um reforçar daquilo que nos une.

Quero transmitir-te tudo o que não te digo. O que expresso no meu olhar, no meu sorriso e na minha gargalhada contigo. Por vergonha, será uma das razões. Ou porque acho que não é necessário. No entanto, bem vistas as coisas, vejo que é necessário dizer-te, pelo menos, para que percebas o lugares que tens na minha vida.

Olho nos teus olhos, vejo o cansaço acumulado da vida exaustiva que levas à vários anos. Tu não és uma simples professora. Há que reconhecer. Todos os teus pais e alunos repetem incessantemente que és mais do que a educadora deles. A mãe que não têm em casa. Talvez, seja o motivo por eles frequentemente te chamarem de Mãe. No entanto, isto não é para aqui chamado. É um assunto que variadíssimas vezes já o tratamos nas conversas de jantar. Tudo já foi dito e redito sem mais nenhuma virgula para acrescentar.

Penso que tens a perfeita noção da excelente profissional que és mesmo que reclames o pouco tempo que lhe dedicas devido a todos os restantes encargos que tens na tua vida. Esposa. Comecemos por aí. Estás casada aproximadamente duas décadas com um homem que apesar da tua exaustiva tentativa de o tornar moderno e culto, da sua teimosia desmedida em não ouvir o que dizes e de ser, para o que lhe convêm, um preguiçoso desmedido, ele adora-te. Seria incapaz de te magoar. Não intencionalmente. Ainda me lembro do desespero com que ficou quando desmaiaste na nossa pequena humilde cozinha branca. Ficou desvairado. Suplicava sussurros baixos decididos a Deus. Por favor, ela é minha mulher. Temos uma filha em comum. Filha essa que na altura, tola e infantil, não se apercebia da gravidade da situação. Ria-se do desespero em que o pai se encontrava. Continua igual essa miúda de sorriso fácil e de olhos negros com azeitonas. Pensa que tem o mundo a seu pés. Aqui nasce o teu papel de protagonista no palco da minha vida, Mãe.

Gritas-me umas quantas verdades nuas e cruas na minha cara. Estremeço. Não dou o braço a torcer por pura rebeldia adolescente. Por conseguinte, bato no fundo. Erro. Depois, choro. Se a principio, dizes-me eu bem te avisei. De seguida, entrelaças os teus dedos na minha mão. Sorris e, com uma paciência que te desconheço, talvez, por seres mãe, deixaste embalar pelos meus pensamentos e complexidades entre soluços e lágrimas derramadas. Aí, vejo a sorte que tenho. Como eu não te mereço, Mãe. És muito melhor do que eu alguma vez fui para ti.

Ultimamente, discutimos mais. A culpa não é somente minha. Pronto, maioritariamente. As nossas ideias divergem. Temos perspectivas da vida diferente. Eu como a inexperiente com ânsia de mergulhar no desconhecido, deslumbrada pelo que lê e ouve, sempre na ponta da língua para opinar sobre os acontecimentos correntes. E, tu, Mãe, tratas de me puxar à Terra com o tua visão realista e cruel. Tratas de me moldar. Primeiro, de forma subtil e, por fim, com um ultimato. Reflectindo melhor, tu és a minha conselheira e confidente.

Sabes, ouço todos os dias, os meus colegas a queixarem-se das mães. Não compreendo. Não vejo como não conseguem ter uma relação como a nossa. Forte. Nem sabes como significas para mim. As tuas amigas podem se rir à vontade por eu te mandar mensagens todos os dias no intervalo. As minhas amigas podem desejar ter uma mãe igual a ti. Os nossos inimigos podem, em vão, miná-la proferindo injúrias ao teu ouvido. Mas, meus caros, isso será infrutífero. O que nos une transcende a limitada acção humana. Somos mãe e filha. Somos companheiras de combate. Porém, amigas não. Saberei sempre qual é o meu lugar. O respeito que devo ter para contigo. Mas, Mãe, não me canso de dizer, és a melhor pessoa que conheço. Sinto-me felizarda por te ter como Mãe. Posso não o transparecer. Sei que te magoou frequentemente com as minhas falas impensadas. Peço-te que perdoes todos estes meus erros. Sou uma trenga, eu sei. Uma trenga que faz tudo para poder ter direito ao tão estimado brilho dos teus olhos quando falares de mim ao invés de uma careta de decepção.

Ai, Mãe, orgulho-me tanto de ti. Nem cabe em mim todos o meu estimo por ti. A palavra amo-te não consegue se quer conter metade do que transborda por ti.

Assim, de uma forma pouco ortodoxo, despeço-me de ti com um beijo nas tuas bochechas como gostas de receber antes de te deitares todas as noites e eu, por vezes, nego-te.

Com amor, da tua filha <3



copodeleite às 21:00
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(4):
De love&dreams a 3 de Maio de 2011 às 19:33
Muito obrigada mesmo, as tuas palavras fizeram-me bem :) achei esta carta magnifica, vê-se mesmo que gostas muito dela :p


De Mariana a 3 de Maio de 2011 às 19:21
Obrigada:) Adoro a música e adorei o texto!


De p;αndяαde. ॐ a 2 de Maio de 2011 às 23:10
parece que sim.
inconquistavel não é, visto que a fay o conquisto. ele só o é, para outras. xb


De Inês Tavares a 2 de Maio de 2011 às 23:01
que querido *-*


- obrigado querida, e desculpa não ter comentado ultimamente, mas tenho lido tudoo e tenho adorado. Simplesmente ando sem tempo e comentar tem se tornado impossivel, mas em breve estarei totalmente de volta (:


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