Quarta-feira, 23 de Novembro de 2011
Perfume.

Mais um dia tivera começado sem sol, o ponteiro longo dos minutos teimava em não sair do 11 desenhado ou seria o aborrecimento tamanho que não deixava o tempo correr. Haveria dias em que o desejo de que ele se acanhe e modere a aceleração não eram atendidos e hoje, apenas hoje, teria de cumprir o desejo? Desconcentrada, nem repara que atenção do companheiro de carteira recaia na delicada face pálida apenas levemente rosada nas maças do rosto. Os olhos azuis procuravam expressar o que nas palavras não diria. O silencio interrompido pelo suspiro faz recuar, virar a cara, surgindo, por acaso ou por ironia do destino, uma corrente de ar com um aroma. Ai que fragrância era aquela? Tão agradável, tão conhecida aos poros de todo o corpo feminino. A admiração formava-se nos lábios carnudos da morena. Arrepiada da epifania dolorosa, procura nos olhos dos da sala o que em tempos a tinha envenenado o coração. A preocupação era latente na urgência do conhecimento do possuidor de tal aroma, agora repudiante aos sentidos. Estaria ali? Ou apenas imaginara o aroma agradavelmente doloroso? Intensifica-se e, por fim, desaparece. O rapaz de cabelo loiro levantou-se da mesa em direcção ao quadro interactivo. Onde vais?, pergunta rapidamente respondida pela amiga da mesa da frente. A professora acabou de o chamar ao quadro. Não ouviste? A razão toma lugar à estupidez. Entre a vergonha e o constrangimento, teria de se concentrar na aula. Não poderia simplesmente pensar que o outro estaria ali quando bem sabia que estava longe, bem longe do alcance da sua vista. Copia demoradamente os cálculos sem reflectir bem no que seriam. Ainda se esforça por conseguir perceber sem êxito. Era triste como algo tão longínquo ainda a magoava, bloqueava o pensamento e não a deixava respirar. Sim, deixara o olfacto de parte e a boca inspirava o oxigénio e expirava o dióxido de carbono. Era frustrante os efeitos que ainda lhe provocava o cheiro do seu perfume. Como seria voltar a vislumbra-lo na penumbra da manhã, sentir o eco dos seus passos sobre o chão da paragem do metro, ouvir a sua voz grave e culta e gargalhar das idiotices tecidas aos trajes e à pronuncia carregadamente tripeira. Ó e quando o espaço teimava em desaparecer, a respiração tornava-se pesada e os olhos irrequietos de excitação culminando naquele toque suave e apaixonados de lábios. Bons momentos desperdiçados, enfim! Mas as juras e as promessas tinham sido reais. Acreditava a miúda que tinha sido o destino que os separara. Ambos sofriam, decerto, sozinhos. Os olhos tinham ficado embaciados com a recordação. O parceiro, já sentado a seu lado, dá-lhe um lenço de papel. Os olhos azuis insistiam para que aceitasse. Contraria-o. Ele insiste. Pega! Aceita mal sabendo que o maldito lenço viria impregnado da razão de o terem dado.



copodeleite às 17:30
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(36):
De » Inês a 23 de Novembro de 2011 às 22:10
amo o texto :)


De » Alexandra C. a 23 de Novembro de 2011 às 19:30
De nada, escreves tao bem *-*


De Jessie Bell a 23 de Novembro de 2011 às 19:14
Isto está tao, mas mesmo tão, tao bonito :'O Espero que tudo esteja bem contigo


De » Alexandra C. a 23 de Novembro de 2011 às 18:40
Adorei adorei adorei *-*


De s. a 23 de Novembro de 2011 às 18:08
adorei.


De letmeaskonething a 23 de Novembro de 2011 às 17:54
tenho saudades tuas!


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